sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Árvore da Vida (The Tree Of Life)


Direção: Terrence Malick

Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Joanna Going, e outros.



Sinopse: A Árvore da Vida acompanha o crescimento do filho mais velho de uma família americana, Jack, da inocência da infância até à desilusão da vida adulta, na tentativa de se conciliar na relação complicada com o seu pai. Jack vê-se perdido no mundo moderno, procurando respostas para as origens e sentido da vida, enquanto questiona a existência da fé.



De forma geral, esse filme trata de questões existenciais, subjetivas e ainda dá conta da criação do mundo com imagens extraordinárias. Excelente construção/amarração da história. Para aqueles que questionam sobre a vida, a existência e seus possíveis sentidos, é um excelente filme. Será possível ainda, aproveitar de forma intimista, as reflexões que são levantadas e oferecidas ao espectador. De fato, este não é um filme para qualquer um assistir. É denso, no que diz respeito à ausência de diálogos, por vezes, pode se tornar pouco cansativo, porém é de uma sutileza, de um cuidado com os sentimentos e sensações dos personagens, da vida, que faz tudo o que está ali ter total sentido e ser prazeroso poder assistir, pensar, sentir. Encontramos ainda muitas simbologias onde podemos fazer várias associações, e a questão da família cristã, onde temos os questionamentos do filho mais velho sobre a real existência de deus e muito mais. Aqui temos a mãe que simboliza a graça, e por sua vez, o pai simbolizando a natureza. Algo singelo e puro, versus algo forte e intenso. O filme é simplesmente muito interessante. A fotografia maravilhosa, os efeitos especiais, a trilha sonora... Fantástico. A Árvore da Vida fala sobre criação: do mundo, das relações, dos contatos, das vidas de forma geral e como essas relações interferem em nós ao longo dos anos, ao longo de nossas vivências. Brilhante. Vale à pena conferir. Mas, só veja se não estiver com sono e nem ansioso. Bom filme!!!



By Rê Pereira

Renatapereira.psi@gmail.com

sexta-feira, 29 de julho de 2011

As Horas (The Hours)

Direção: Stephen Daldry

Elenco: Meryl Streep, Julianne Moore, Nicole Kidman e outros. 

Sinopse: Três épocas, três mulheres em três histórias se mesclam e se transformam pela influência de uma grande obra literária. A primeira é Virgínia Woolf, que vive num subúrbio londrino nos anos 20, lutando contra a insanidade enquanto começa a escrever seu primeiro grande romance, A Senhora Dalloway. As outras mulheres, a dona de casa Laura Brown, de Los Angeles, nos anos 40 e a editora Clarissa Vaugan, nos dias de hoje, em Nova York, enfrentam situações diferentes entrelaçadas pelo livro que Virgínia escreveu, fundindo-se num final surpreendente.

- Oscar de Melhor Atriz em 2003 para Nicole Kidman.



Este filme mostra um pouco do universo depressivo e sofrido de Virgínia Woolf. De forma angustiante, podemos acompanhar um pouco do processo de criação dela, neste caso, como elo entre as três histórias, temos o livro A Senhora Dalloway, que foi escrito por Woolf. Aqui, as vidas se entrelaçam e se unificam de uma forma surpreendente. Podemos conferir o sofrimento de Woolf se repetir nas histórias que se cruzam, pois todas apresentam um ponto em comum: um vazio, uma angústia, um sofrimento profundo e devastador que toma conta delas, cada uma a sua maneira. Durante o filme, uma fala de Laura chama a atenção quando diz em algum momento, definindo o livro que está lendo: “... Ela é boa anfitriã e tem muita autoconfiança. Ela vai dar uma festa. Como ela é muito autoconfiante, todos pensam que ela está bem, mas não está...”. As pessoas, com certa frequência, pensam muitas coisas sobre o outro e julgam sem saber nada a respeito. Um drama com forte teor existencial, intenso e angustiante em alguns momentos. Complexo. Porém, excelente filmagem e tradução de palavras e sentimentos em imagens. Muito bom. Vale à pena conferir.


By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Minhas Tardes Com Margueritte (La tête en friche)


Direção: Jean Becker

Elenco: Gérard Depardieu, Gisèle Casadesus e outros.

Sinopse: A vida de duas pessoas se cruza de maneira singular e especial. De um lado, um homem cinquentão e semi-analfabeto e de outro, uma senhora de 95 anos apaixonada por literatura. Ambos iniciam de forma natural uma bela amizade.

Desde seu lançamento, estava ansiosa por assistir a esta película. Algo de terno me motivava. Enfim, na última semana consegui me lançar ao cinema e me embriagar com tal sensibilidade, delicadeza e humanidade ao qual este filme suscitou.
De certa forma, o filme apresenta questões que seriam clichês provavelmente, porém é conduzido de forma tão especial e leve que nos faz refletir sobre questões bastante complexas e que fez ou fará parte da vida de muitos e que nem sempre paramos para pensar, para sentir. O personagem Germain, nos apresenta já no início do filme, vários dramas com os quais tem que lidar e seguir com sua vida. A rejeição de sua mãe. As palavras duras, discriminatórias que sempre ouviu dela. Sua mãe dizia tantas vezes que ele era um nada, o chamava apenas de “Isso” que o sentimento de ser “um nada” o acompanhou por muito tempo e assim, acreditava que não poderia fazer algo de bom, e muito menos construir uma família, ter um filho. Os colegas de bar que sempre zombavam dele por não ter um vocabulário rico e por ser um homem simples, humilde e de coração imenso. Sim, pois Germain é um tanto rústico, porém com uma sensibilidade tamanha capaz de superar até sua dificuldade com a leitura/palavras através do amor, da amizade, de um contato tão verdadeiro. Essa amizade se deu com Margueritte. Uma senhora que ama literatura e tem em si a capacidade de trazer à tona cada história lida em voz alta por ela de forma muito sensível e próxima. Com este contato, que surge de forma simples e tão sem interesse algum, vemos nascer uma linda amizade que modifica deveras, a vida dessas pessoas. Para mim, ficou desse filme, o encontro. Encontro de almas, de vidas. Um encontro verdadeiro de pessoas que amam a vida e que encontraram nela alguma razão especial para vivê-la. Simplesmente lindo. A troca entre pessoas é algo que sempre alimentará a alma, a vida. Assista. Acredito que não se arrependerá.

By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

Alexandria (Ágora)


Direção: Alejandro Amenabar

Elenco: Rachel Weisz, Max Minghella, Oscar Isaac e outros.

Sinopse: Sob o domínio Romano, a cidade de Alexandria é palco de uma das mais violentas rebeliões religiosas de toda história antiga. O povo pagão inicialmente disputa com Judeus e Cristãos a soberania política, econômica e religiosa da cidade. Entre o conflito, a jovem filósofa e professora Hypatia (Rachel Weisz) lidera um grupo de discípulos que luta para preservar a biblioteca de Alexandria. Contudo, Hypatia terá que arriscar s sua vida em uma batalha
histórica que mudará o destino da humanidade.

Neste filme podemos conferir a história de uma filósofa e professora Hypatia que não pensa em casar-se, porém sempre estudou vorazmente e seus questionamentos, dessa forma, são voltados para a ciência. Em contra partida, temos uma questão religiosa vivenciada na mesma época, pois o cristianismo entra em confronto com os judeus e com a cultura greco-romana. O cristianismo que antes era uma religião intolerada, se transforma em uma religião intolerante, pois inicia uma sangrenta busca por eliminar os povos cuja crença seja diferente da deles. Na verdade, o cristianismo quer tomar o poder total. A intolerância dos cristãos choca de tal forma a sentirmos raiva de tamanha ignorância e violências fomentadas por crenças. Se a tolerância às diferenças, de forma geral, fosse mais praticada, teríamos momentos menos tristes, pelo menos, de menor violência contra as pessoas. Deparamo-nos fortemente ainda, com a forma como a mulher é vista pelo cristianismo, além de ser uma violência, fere totalmente os direitos humanos, a individualidade, o direito à palavra, à voz. Um desprezo tamanho e ignorante contra a mulher. Um momento no filme que achei muito forte e verdadeiro/importante é justamente a hora em que Hypatia diz a Sinésio quando ele tenta convencê-la a aceitar Cristo e converter-se para que seja salva, literalmente: “... Se não questiona o que acredita, você não pode acreditar. Eu preciso questionar...”. Uma mulher de muita força e princípios, que infelizmente, acaba sendo vítima do fanatismo religioso. Esta película é uma excelente pedida, pois existem muitas provações filosóficas e nos faz refletir sobre muitas coisas, como a intolerância, a crença, a condição do feminino no mundo de ontem e no mundo de hoje e por aí vai. Vale à pena conferir. Bom filme.


By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

A Partida (Departures)

Direção: Yojiro Takita 

Sinopse: 'A Partida' conta a história de um violoncelista que volta à cidade natal no Japão com sua esposa depois que a orquestra onde toca é dissolvida. Lá, começa a trabalhar como agente funerário e depois de muitas coisas, passa a sentir-se orgulhoso de sua nova profissão, apesar das críticas dos que o rodeiam.

- Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009.

Escolhi um filme que não é estreia e nem tampouco se encontra em cartaz. A escolha se deve por ter sido um dos filmes mais significativos em minha vida e gostaria de poder compartilhar com o maior número de pessoas essa experiência fazendo a indicação do mesmo. Um filme que fala sobre respeito, sensibilidade, amor, e ainda sobre as diversas mortes que vivemos. Porém, aqui a morte é abordada com tal respeito e sensibilidade que nos move para além de onde estamos e ainda promove em nós uma reflexão profunda sobre as diversas passagens que vivemos em nossas vidas e não apenas a morte carnal.

O filme desenha sutilmente o rito de passagem da vida para a morte e faz o inverso também, nos trazendo da morte que podemos vivenciar em nós, para a vida que nos chama e quer se mostrar, e nos envolve com sua delicadeza e profundidade. Um filme que aborda ainda o encontro de nós mesmos no sentido de se permitir olhar as nossas questões, de nos permitirmos viver algo novo e ressignificar o velho. Fala sobre o respeito individual e pelo próximo. O grande lance disso tudo, é justamente o fato de que o cuidado todo com a pessoa que morreu, na verdade, é para com quem ficou; para que as pessoas envolvidas no ritual de morte possam ressignificar e seguir suas vidas mesmo depois da perda de alguém querido. O trabalho de elaboração é para os que ficam e não para os que morrem. As Partidas são importantes para nós, para o nosso trilhar, para que possamos elaborar aqui enquanto ainda pudermos seguir. Sugiro que veja o filme apenas se estiver aberto a vivenciar uma experiência profundamente poética e singular.

By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Trabalho (D)e SENTIR


Depois de muito tempo sem aparecer por aqui, por pura falta de inspiração e tempo para viver, gostaria de refletir com vocês sobre o poder que tem o trabalho sobre nós. Sobre como ele toma conta da nossa vida, muitas vezes, de forma tão violenta, e como não percebemos quanto dela, e até mesmo de nós mesmos, nos é tirado a cada dia que damos mais importância ao trabalho do que ao nosso eu e de todas as outras coisas importantes que nos cercam como as pessoas, os estudos, a arte, a paixão.

Nos últimos meses tenho trabalhado demais, de forma até sobrecarregada eu diria, por diversos motivos. E isso fez com que eu não tivesse tempo nem para refletir sobre coisas simples e quem dirá sobre as mais complexas que me cercam. Num mundo onde as coisas acontecem em fração de segundos e as mudanças são mais rápidas ainda, sinto falta de parar e poder refletir, quem sabe até filosofar sobre coisas da vida, simples assim: parar, pensar, falar, trocar.

Tenho pensado muito sobre uma questão bastante específica: engraçado como as pessoas que normalmente me cercam no trabalho não prezam pelas mesmas coisas, não tem os mesmos interesses e muito menos preocupações sociais; pensam somente em si. Não que as pessoas precisem ter os mesmos interesses que eu, claro que não. As pessoas esquecem que todos nós temos necessidade de algo, temos sofrimentos, tristezas, angústias, importância. Entendo que esse seja um ponto delicado, pois com o capitalismo e com toda sua gama de mudanças e alterações diversas, o indivíduo tende realmente a ser cada vez mais individualista, mais competitivo, o que é péssimo para o sujeito, e bom para o capitalista que vive em função do dinheiro, do consumo e da exploração. Devido a essa situação está cada dia mais difícil encontrar pessoas sensíveis, preocupadas com o outro, e que reflitam sobre questões subjetivas e existenciais que digam respeito a sua condição humana, bem como com o próximo e com o futuro do mundo. Que pena.

Sinto falta de pessoas que sentem as dores do mundo, e não digo isso porque gostaria que as pessoas fossem mais deprimidas (rs), longe disso, e sim porque gostaria que as pessoas estivessem mais humanizadas, mais sensíveis e não simplesmente aceitassem as coisas como naturais, acostumadas com o cotidiano perverso do qual fazem parte, e muitas vezes reproduzindo o mesmo em suas pequenas ou grandes ações. Em geral as pessoas acham que aquilo o que acontece com o outro não é problema delas: aquela criança pedindo esmola no semáforo não é responsabilidade minha; aquele pai de família roubando algo para que possam se alimentar, sobreviver, não é problema meu, aliás, é visto apenas como um vagabundo que não quer trabalhar. Simples assim. É muito fácil julgar e colocar o outro sempre a mercê da vida, das suas escolhas, quando na verdade, ele não teve escolha. Ninguém lhe ofereceu oportunidades, ou direito de escolher qualquer coisa diferente daquela vida que tem. E sinceramente, acho um absurdo as pessoas conseguirem viver assim, com olhares envoltos em si somente.

Voltemos ao tema inicial, o trabalho e como toma muito tempo de nossas vidas. Precisamos encontrar espaço nessa correria toda, nesse turbilhão de acontecimentos e conseguir parar e pensar sobre nós mesmos, nossas angústias, nossos sonhos, nossa realidade social/política/econômica/cultural e psíquica. Viver algo diferente da maioria das pessoas, viver o subjetivo, o abstrato, o profundo, o sensível. É isso que desejo para você, para nós.

Hoje aqui, só quero dizer que preciso olhar mais para mim e me perceber, me deixar sentir, e viver o hoje independente do tempo que tenha para isso, mas o importante é simplesmente conseguir olhar minimamente para dentro e para fora. Preciso disso. Precisamos disso.

Sentir é simplesmente viver e Viver, bom… É poder amar…

Bye,