domingo, 5 de abril de 2009

Olhar


Nos últimos dias me peguei pensando em como as primeiras impressões que temos quando vemos algumas coisas são levadas em conta, e isso me levou a pensar a questão do olhar, do sentir a energia do outro. Digo isso pois até mesmo aquele que não pode enxergar (fisiologicamente) tem primeiras impressões de tudo, tanto quanto nós, só que de forma diferente. E dessa maneira acabei pensando uma infinidade de coisas e tentei unir tudo nesse escrito. Espero que entendam e gostem.

No Aurélio encontraremos a seguinte definição: v. t. 1. Fitar os olhos ou a vista em; mirar. 2. Atentar ou reparar em. 3. Tomar conta (de). 4. Zelar por. Int. 5. Exercer ou aplicar o sentido da vista. P. 6. Ver-se, encarar-se. 7. Ver-se mutuamente. sm. 8. Ação ou modo de olhar.

É sabido que desde os primeiros dias de vida a criança já começa a se relacionar com o mundo através do olhar e do choro. Existem estudos que dizem que o recém nascido não tem uma visão clara e precisa do que acontece a sua volta, a criança nos enxerga apenas como vultos. Mas mesmo a criança não enxergando nitidamente como nós adultos, ela percebe o ambiente em que está e tudo a ajuda a melhor compreender as coisas a sua volta, como por exemplo, o som que ouve. Com o passar dos dias, meses, a visão da criança vai se adaptando ao ambiente e ela vai começar a perceber o local, as pessoas e principalmente sua mãe. Depois de mais algum tempo a criança começa a reproduzir aquilo que vê através de gestos, expressões e depois sons também. Vejo o olhar para a criança como ‘PODER PERCEBER E TORNAR-SE PARTE DO MUNDO’.

Assim sendo, penso que o olhar tem outra função para nós adultos, desde o momento que passamos a ter uma visão mais julgadora. Essa outra visão acontece necessariamente quando começamos a interagir com o outro por meio da família e também quando passamos a ter uma visão mais crítica da realidade, a partir do momento que entramos na escola, começamos a usar o olhar de outra forma. Começamos, por meio dele, a buscar analisar, pré-julgar e uma série de outras interpretações que se pode imaginar. Contudo, o olhar vai se tornando cada vez mais importante e também por que não dizer perigoso na vida de cada indivíduo. Por que perigoso? Por uma série de fatores. Através do olhar podemos inferir muitas coisas, podemos cometer muitos acertos mas também erros de percepção. Neste caso, vejo o olhar como uma ‘ESTRADA DE MÃO DUPLA’ e isso faz conotação com coisas boas e ruins. Porém, quero falar do lado bom e positivo do olhar. Daquele momento em que olhar se torna a ação mais simples e gostosa do ser humano. Momento esse onde posso contemplar tudo o que é belo, tudo o que é palpável e também tudo o que é subjetivo, introspectivo, ‘TUDO’ o que está dentro de nós.

O olhar promove o conhecer, o acrescentar ou não algo a sua vida e isso tudo é muito relativo. Depois do horizonte sempre existe uma nova paisagem.

No entanto, existe uma diferença muito grande entre enxergar e simplesmente ver. Exemplo disso é o que nos diz Saramago em seu livro “Ensaio sobre a cegueira”, onde ele usa metaforicamente a cegueira para elucidar que não basta ter olhos e a visão, tem que enxergar além do que se vê. Precisa haver compreensão e interpretação daquilo que se vive, que se olha, tudo o que se sente, seja de qual natureza for.

Existem várias formas de se ver. O que vejo de um jeito, você poderá ver de outro. Se por um lado isso acaba enriquecendo qualquer tipo de trabalho, não podemos deixar de levar em consideração que há também as percepções profundamente preconceituosas que levam a várias formas de discriminações sociais e culturais. Nesse sentido, o que deveria prevalecer levando em conta as diferentes formas de visão seria a postura crítica, ética e respeitosa com relação ao outro.

Mas na verdade comecei falando sobre as primeiras impressões, e essas para mim, fazem parte do olhar. Com isso também posso pensar em sensações, sentimentos que o sujeito observado me transmite e até mesmo as sensações que ele desperta em mim, ou seja, para compor um olhar usamos vários processos psíquicos, passamos por diversos momentos introspectivos, e disso nascem as impressões. Essas impressões acabam dizendo muito sobre você também, muito sobre o tipo de vida que tem, da sua vivência cultural, e isso tudo é muito complexo porque esbarramos em questões muito mais profundas e muito mais significativas que as simples "Impressões". Falamos de questões interiores que dificilmente entraremos em contato direto, consciente. Podemos falar ainda sobre as projeções, mas isso acredito ser tema para um próximo escrito rsrs, pois esse aqui está ficando muito longo.


Bye