quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Clarice em Cena

Ontem estava muito ansiosa para ver a peça "Clarice em Cena", que na verdade a diretora Paula Carrara chama de exercício pois está em constante transformação e sempre podemos perceber de formas diferentes (acho que foi isso que entendi... rs) e tive a oportunidade de apreciar o exercício que é feito pelo grupo Ausência em Cena. Fiquei muito feliz e por isso gostaria de parabenizá-los pelo belíssimo trabalho que é desenvolvido por eles.

Adorei ver o que foi feito ontem e fiquei maravilhada com a atuação dos atores, com a forma com a qual se entregam ao personagem, à Clarice.

Uns me chamaram mais a atenção porque talvez eu tenha me identificado mais, porém gostei muito do conjunto, do todo.


"Ausência em Cena: acossados pela duração e implacabilidade do tempo, a cena torna-se o lugar onde o instante quer fazer-se perpétuo; quer, na sua finitude, perdurar dentro de quem testemunha a aparição dessa ausência-presença. Nós, arquitetos desse paradoxo, temos como instrumento o nosso corpo: é ele que damos a sacrifício para a dissolução do instante (nós somos um corpo – quem de fato é dado a sacrifício?) Compomos gestos insensatos, fungindo à razão, encontrando a loucura; buscamos o ser-corpo. É nele que existimos. E a existência habita o lugar onde despertamos os sentimentos numa iluminação em via dupla, ausente de quarta parede – ausentes de nós. Ser-somente corpo"
Ausência em Cena - Blog

Ia comentar outras coisas agora, porém ao ler a descrição acima, me percebi em meio a pensamentos flutuantes que me levaram a um tempo remoto onde lia a Hora da Estrela e que no momento da leitura nada fazia muito sentido pra mim, ficava me perguntando o por que essa mulher (Lispector) era tão bem vista e elogiada por seus escritos, realmente não conseguia entender... Mas sempre seu nome me suscitava algo que não era decifrado por mim... E ontem, consegui perceber. Era simplesmente o fato de que podemos sentir, saborear, perceber e mergulhar nas coisas de forma diferente, mas que o que realmente importa é justamente como faremos isso, como essa transformação constante pode ser alterada de forma positiva, algo que seja ao nosso favor...

Sempre levando em conta a minha ausência posso me perceber melhor e isso me fez lembrar da fala de uma psicóloga sobre o paciente ter mencionado que ela (psicóloga) conseguia fazer com que ele entrasse e saísse de si mesmo. Que mágico!!!! É isso, o poder olhar-se, permitir-se ser olhado e também se olhar sempre, coisa que nós temos feito cada vez menos e ao ler Clarice você acaba fazendo esse exercício se estiver pronto para ele. Para ler Clarice é interessante estar com a alma já formada, embora nunca saiamos os mesmos depois de ler qualquer obra com profundidade!

Só tenho a agradecer, de fato, por essa oportunidade de poder sentir dessa forma algo que começou há tantos anos, e que mexeu de forma considerável com os meus pensamentos e sentimentos e que lamentavelmente nem me lembrava mais!

Valeu, muito obrigada "Ausência em Cena".





Para quem quiser ler mais sobre eles: http://ausenciaemcena.blogspot.com/

Bye,