segunda-feira, 23 de maio de 2011

Trabalho (D)e SENTIR


Depois de muito tempo sem aparecer por aqui, por pura falta de inspiração e tempo para viver, gostaria de refletir com vocês sobre o poder que tem o trabalho sobre nós. Sobre como ele toma conta da nossa vida, muitas vezes, de forma tão violenta, e como não percebemos quanto dela, e até mesmo de nós mesmos, nos é tirado a cada dia que damos mais importância ao trabalho do que ao nosso eu e de todas as outras coisas importantes que nos cercam como as pessoas, os estudos, a arte, a paixão.

Nos últimos meses tenho trabalhado demais, de forma até sobrecarregada eu diria, por diversos motivos. E isso fez com que eu não tivesse tempo nem para refletir sobre coisas simples e quem dirá sobre as mais complexas que me cercam. Num mundo onde as coisas acontecem em fração de segundos e as mudanças são mais rápidas ainda, sinto falta de parar e poder refletir, quem sabe até filosofar sobre coisas da vida, simples assim: parar, pensar, falar, trocar.

Tenho pensado muito sobre uma questão bastante específica: engraçado como as pessoas que normalmente me cercam no trabalho não prezam pelas mesmas coisas, não tem os mesmos interesses e muito menos preocupações sociais; pensam somente em si. Não que as pessoas precisem ter os mesmos interesses que eu, claro que não. As pessoas esquecem que todos nós temos necessidade de algo, temos sofrimentos, tristezas, angústias, importância. Entendo que esse seja um ponto delicado, pois com o capitalismo e com toda sua gama de mudanças e alterações diversas, o indivíduo tende realmente a ser cada vez mais individualista, mais competitivo, o que é péssimo para o sujeito, e bom para o capitalista que vive em função do dinheiro, do consumo e da exploração. Devido a essa situação está cada dia mais difícil encontrar pessoas sensíveis, preocupadas com o outro, e que reflitam sobre questões subjetivas e existenciais que digam respeito a sua condição humana, bem como com o próximo e com o futuro do mundo. Que pena.

Sinto falta de pessoas que sentem as dores do mundo, e não digo isso porque gostaria que as pessoas fossem mais deprimidas (rs), longe disso, e sim porque gostaria que as pessoas estivessem mais humanizadas, mais sensíveis e não simplesmente aceitassem as coisas como naturais, acostumadas com o cotidiano perverso do qual fazem parte, e muitas vezes reproduzindo o mesmo em suas pequenas ou grandes ações. Em geral as pessoas acham que aquilo o que acontece com o outro não é problema delas: aquela criança pedindo esmola no semáforo não é responsabilidade minha; aquele pai de família roubando algo para que possam se alimentar, sobreviver, não é problema meu, aliás, é visto apenas como um vagabundo que não quer trabalhar. Simples assim. É muito fácil julgar e colocar o outro sempre a mercê da vida, das suas escolhas, quando na verdade, ele não teve escolha. Ninguém lhe ofereceu oportunidades, ou direito de escolher qualquer coisa diferente daquela vida que tem. E sinceramente, acho um absurdo as pessoas conseguirem viver assim, com olhares envoltos em si somente.

Voltemos ao tema inicial, o trabalho e como toma muito tempo de nossas vidas. Precisamos encontrar espaço nessa correria toda, nesse turbilhão de acontecimentos e conseguir parar e pensar sobre nós mesmos, nossas angústias, nossos sonhos, nossa realidade social/política/econômica/cultural e psíquica. Viver algo diferente da maioria das pessoas, viver o subjetivo, o abstrato, o profundo, o sensível. É isso que desejo para você, para nós.

Hoje aqui, só quero dizer que preciso olhar mais para mim e me perceber, me deixar sentir, e viver o hoje independente do tempo que tenha para isso, mas o importante é simplesmente conseguir olhar minimamente para dentro e para fora. Preciso disso. Precisamos disso.

Sentir é simplesmente viver e Viver, bom… É poder amar…

Bye,