sexta-feira, 29 de julho de 2011

As Horas (The Hours)

Direção: Stephen Daldry

Elenco: Meryl Streep, Julianne Moore, Nicole Kidman e outros. 

Sinopse: Três épocas, três mulheres em três histórias se mesclam e se transformam pela influência de uma grande obra literária. A primeira é Virgínia Woolf, que vive num subúrbio londrino nos anos 20, lutando contra a insanidade enquanto começa a escrever seu primeiro grande romance, A Senhora Dalloway. As outras mulheres, a dona de casa Laura Brown, de Los Angeles, nos anos 40 e a editora Clarissa Vaugan, nos dias de hoje, em Nova York, enfrentam situações diferentes entrelaçadas pelo livro que Virgínia escreveu, fundindo-se num final surpreendente.

- Oscar de Melhor Atriz em 2003 para Nicole Kidman.



Este filme mostra um pouco do universo depressivo e sofrido de Virgínia Woolf. De forma angustiante, podemos acompanhar um pouco do processo de criação dela, neste caso, como elo entre as três histórias, temos o livro A Senhora Dalloway, que foi escrito por Woolf. Aqui, as vidas se entrelaçam e se unificam de uma forma surpreendente. Podemos conferir o sofrimento de Woolf se repetir nas histórias que se cruzam, pois todas apresentam um ponto em comum: um vazio, uma angústia, um sofrimento profundo e devastador que toma conta delas, cada uma a sua maneira. Durante o filme, uma fala de Laura chama a atenção quando diz em algum momento, definindo o livro que está lendo: “... Ela é boa anfitriã e tem muita autoconfiança. Ela vai dar uma festa. Como ela é muito autoconfiante, todos pensam que ela está bem, mas não está...”. As pessoas, com certa frequência, pensam muitas coisas sobre o outro e julgam sem saber nada a respeito. Um drama com forte teor existencial, intenso e angustiante em alguns momentos. Complexo. Porém, excelente filmagem e tradução de palavras e sentimentos em imagens. Muito bom. Vale à pena conferir.


By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Minhas Tardes Com Margueritte (La tête en friche)


Direção: Jean Becker

Elenco: Gérard Depardieu, Gisèle Casadesus e outros.

Sinopse: A vida de duas pessoas se cruza de maneira singular e especial. De um lado, um homem cinquentão e semi-analfabeto e de outro, uma senhora de 95 anos apaixonada por literatura. Ambos iniciam de forma natural uma bela amizade.

Desde seu lançamento, estava ansiosa por assistir a esta película. Algo de terno me motivava. Enfim, na última semana consegui me lançar ao cinema e me embriagar com tal sensibilidade, delicadeza e humanidade ao qual este filme suscitou.
De certa forma, o filme apresenta questões que seriam clichês provavelmente, porém é conduzido de forma tão especial e leve que nos faz refletir sobre questões bastante complexas e que fez ou fará parte da vida de muitos e que nem sempre paramos para pensar, para sentir. O personagem Germain, nos apresenta já no início do filme, vários dramas com os quais tem que lidar e seguir com sua vida. A rejeição de sua mãe. As palavras duras, discriminatórias que sempre ouviu dela. Sua mãe dizia tantas vezes que ele era um nada, o chamava apenas de “Isso” que o sentimento de ser “um nada” o acompanhou por muito tempo e assim, acreditava que não poderia fazer algo de bom, e muito menos construir uma família, ter um filho. Os colegas de bar que sempre zombavam dele por não ter um vocabulário rico e por ser um homem simples, humilde e de coração imenso. Sim, pois Germain é um tanto rústico, porém com uma sensibilidade tamanha capaz de superar até sua dificuldade com a leitura/palavras através do amor, da amizade, de um contato tão verdadeiro. Essa amizade se deu com Margueritte. Uma senhora que ama literatura e tem em si a capacidade de trazer à tona cada história lida em voz alta por ela de forma muito sensível e próxima. Com este contato, que surge de forma simples e tão sem interesse algum, vemos nascer uma linda amizade que modifica deveras, a vida dessas pessoas. Para mim, ficou desse filme, o encontro. Encontro de almas, de vidas. Um encontro verdadeiro de pessoas que amam a vida e que encontraram nela alguma razão especial para vivê-la. Simplesmente lindo. A troca entre pessoas é algo que sempre alimentará a alma, a vida. Assista. Acredito que não se arrependerá.

By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

Alexandria (Ágora)


Direção: Alejandro Amenabar

Elenco: Rachel Weisz, Max Minghella, Oscar Isaac e outros.

Sinopse: Sob o domínio Romano, a cidade de Alexandria é palco de uma das mais violentas rebeliões religiosas de toda história antiga. O povo pagão inicialmente disputa com Judeus e Cristãos a soberania política, econômica e religiosa da cidade. Entre o conflito, a jovem filósofa e professora Hypatia (Rachel Weisz) lidera um grupo de discípulos que luta para preservar a biblioteca de Alexandria. Contudo, Hypatia terá que arriscar s sua vida em uma batalha
histórica que mudará o destino da humanidade.

Neste filme podemos conferir a história de uma filósofa e professora Hypatia que não pensa em casar-se, porém sempre estudou vorazmente e seus questionamentos, dessa forma, são voltados para a ciência. Em contra partida, temos uma questão religiosa vivenciada na mesma época, pois o cristianismo entra em confronto com os judeus e com a cultura greco-romana. O cristianismo que antes era uma religião intolerada, se transforma em uma religião intolerante, pois inicia uma sangrenta busca por eliminar os povos cuja crença seja diferente da deles. Na verdade, o cristianismo quer tomar o poder total. A intolerância dos cristãos choca de tal forma a sentirmos raiva de tamanha ignorância e violências fomentadas por crenças. Se a tolerância às diferenças, de forma geral, fosse mais praticada, teríamos momentos menos tristes, pelo menos, de menor violência contra as pessoas. Deparamo-nos fortemente ainda, com a forma como a mulher é vista pelo cristianismo, além de ser uma violência, fere totalmente os direitos humanos, a individualidade, o direito à palavra, à voz. Um desprezo tamanho e ignorante contra a mulher. Um momento no filme que achei muito forte e verdadeiro/importante é justamente a hora em que Hypatia diz a Sinésio quando ele tenta convencê-la a aceitar Cristo e converter-se para que seja salva, literalmente: “... Se não questiona o que acredita, você não pode acreditar. Eu preciso questionar...”. Uma mulher de muita força e princípios, que infelizmente, acaba sendo vítima do fanatismo religioso. Esta película é uma excelente pedida, pois existem muitas provações filosóficas e nos faz refletir sobre muitas coisas, como a intolerância, a crença, a condição do feminino no mundo de ontem e no mundo de hoje e por aí vai. Vale à pena conferir. Bom filme.


By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com

A Partida (Departures)

Direção: Yojiro Takita 

Sinopse: 'A Partida' conta a história de um violoncelista que volta à cidade natal no Japão com sua esposa depois que a orquestra onde toca é dissolvida. Lá, começa a trabalhar como agente funerário e depois de muitas coisas, passa a sentir-se orgulhoso de sua nova profissão, apesar das críticas dos que o rodeiam.

- Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009.

Escolhi um filme que não é estreia e nem tampouco se encontra em cartaz. A escolha se deve por ter sido um dos filmes mais significativos em minha vida e gostaria de poder compartilhar com o maior número de pessoas essa experiência fazendo a indicação do mesmo. Um filme que fala sobre respeito, sensibilidade, amor, e ainda sobre as diversas mortes que vivemos. Porém, aqui a morte é abordada com tal respeito e sensibilidade que nos move para além de onde estamos e ainda promove em nós uma reflexão profunda sobre as diversas passagens que vivemos em nossas vidas e não apenas a morte carnal.

O filme desenha sutilmente o rito de passagem da vida para a morte e faz o inverso também, nos trazendo da morte que podemos vivenciar em nós, para a vida que nos chama e quer se mostrar, e nos envolve com sua delicadeza e profundidade. Um filme que aborda ainda o encontro de nós mesmos no sentido de se permitir olhar as nossas questões, de nos permitirmos viver algo novo e ressignificar o velho. Fala sobre o respeito individual e pelo próximo. O grande lance disso tudo, é justamente o fato de que o cuidado todo com a pessoa que morreu, na verdade, é para com quem ficou; para que as pessoas envolvidas no ritual de morte possam ressignificar e seguir suas vidas mesmo depois da perda de alguém querido. O trabalho de elaboração é para os que ficam e não para os que morrem. As Partidas são importantes para nós, para o nosso trilhar, para que possamos elaborar aqui enquanto ainda pudermos seguir. Sugiro que veja o filme apenas se estiver aberto a vivenciar uma experiência profundamente poética e singular.

By Rê Pereira
Renatapereira.psi@gmail.com